sexta-feira, 18 de abril de 2008

Vizinhos

O ruído da torneira aberta entrega que tenho vizinho novo do lado esquerdo. Já era tempo. Há muito cansei de fingir que o casal do lado direito não existe. Ignoram as tentativas de cumprimentá-los, para puxar qualquer conversa nonsense que seja (Ei, esse tempo, hein? Quanta chuva). São solenemente ignorados meus simpáticos olhares de soslaio e charmosos (Talvez nem tanto, concluo agora) semi-sorrisos. De nada adianta. Mas quando as cortinas amarelas de estampa de gosto duvidoso se abrem, eles existem. E como. Despudoradamente, com a sem-vergonheza digna de um casal de película erótica. Ela, loira oxigenada, lá pelos seus 40 anos, geme com a expertise de uma atriz pornô. Dele, na mesma faixa etária, sempre com cara de nada amigos, a única coisa que se pode ouvir foi um Was ist?, quando uma convidada (Minha, claro) se atreveu a espiar pela janela, devidamente escancarada durante uma das exibições (Educativas, assumo) Talvez por isso o estudante que do quarto ao lado esquerdo tenha sumido em tão pouco tempo. Bobagem. Lembro perfeitamente da noite em que ele chegou. Reclamou que o estúdio (estúdio = kit composto quarto minúsculo contendo cozinha menor ainda e banheiro) era muito quente. Talvez a temperatura estivesse mesmo fora de ordem no quarto do rapaz e ele tenha morrido desidratado numa noite dessas. Eu expliquei que deixo a janela aberta, 99% das vezes. Depois do contato cortês ele desaparecera. Talvez tenha mesmo morrido e sido retirado pela Polizei e eu deixei passar despercebido. Apenas a bicicleta e uma pequena moto continuam na porta do quarto, levando por água abaixo a tese de que s duas pertenciam ao casal de italianos que antes lá moravam. Ah, esses sim. Esses se faziam presentes. Disputavam a minha atenção com o casal do lado direito. Já na casa dos 60, eles marcavam território com o som da televisão sempre ligada e os diálogos em tons quase sempre calorosos. A parte masculina, quando a feminina saia para trabalhar, passava quase que o tempo todo no pátio lustrando sua Mercedes. Oh ieah, viviam num casulo semelhante ao meu mas tinham um carro de luxo para carregá-los para lá e para cá. Mas agora voltemos ao que interessa: quero saber quem acabou de chegar. Os ruídos cessam. O vizinho deve ter ido dormir. E eu deveria fazer o mesmo. Há dias sou surpreendida por uma insônia insistente. De onde vem essa energia extra que não pedi? Até o energy drink aposentei, diante de tantas afirmativas sobre os malefícios da taurina e outros termos químicos com sufixo -ina.Whatever. Vamos ver no que dá.