segunda-feira, 1 de setembro de 2008

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tchau

Da mesma maneira que começou, de repente, ele acaba. Digo tchau para esse espacinho aqui. Continuarei no universo online com a querida Lydia (www.custosas.blog.com) e, porque a privacidade (ainda que virtual) é absolutamente necessária migrarei para outro canto sozinha. Logo digo pra onde mudei. Nos vemos!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

R.S.V.P.


A internet deixou as pessoas visivelmente mais mal educadas. O exemplo mais significante é o e-mail. Conversei com um amigo (educadíssimo por sinal, seja ao vivo, seja virtual, sempre um gentleman, né João?!):

- A maioria das pessoas não me respondeu ao e-mail... - lamentei, e ele:

- Você pediu resposta? - e eu:

- Claro que não.

Explico: claro que não porque, ao dirigir a palavra a uma pessoa nunca se pede resposta, certo? É automático, não é? Assim deveria ser com o correio eletrônico. Na época dos bilhetes e cartas, raramente alguém ficava sem resposta.

Pessoas, respondam!


p.s:: Ah, a regra não se aplica aos FW.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Chove chuva


Cabelo arrepiado, barra da calça molhada e pés ensopados (Por que não calcei a Melissa? Maldita hora em que coloquei essa sandália de couro!), fora o trânsito que vira o caos. Esses são alguns dos inconvenientes de um dia chuvoso, como tem sido quase todos os dias aqui em Goiânia, ultimamente.

Detalhes à parte, as tais gotinhas que vêm do céu - além de proporcionarem um efeito especial e natural na hora de dormir -, provocam sublime inspiração nos músicos, que acabam compondo canções inesquecíveis, provavelmente ao som de um pé d´água.

Tenho vontade de gravar uma coletânea só com alguns desses hits molhados (Se alguém o fizesse pra mim seria recordado pro resto da vida. Alguém se habilita?). O CD não sairia do player do carro, do computador...E, na bolachinha prateada, com certeza, não iriam faltar...

Raindrops Keep Falling On My Head – BJ Thomas
Raindrops keep fallin' on my head
But that doesn't mean my eyes will soon be turnin' red
Cryin's not for me'
Cause I'm never gonna stop the rain by complainin'
Because I'm free
Nothin's worryin' me
A doce canção de BJ Thomas é absolutamente fofa. Nascido em Houston no ano de 1942, o cara emplacou o hit, que virou tema do filme Butch Cassidy and The Sundance Kid. Ela é perfeita pra ouvir em casa, bem cedinho, preparando um capuccino fumegante. Ou então dentro do carro. Tem efeito terapêutico sobre nervos à flôr-da-pele!

Rain – Madonna
Rain Feel it on my finger tips
Hear it on my window pane
Your love is coming down like
Rain
Wash away my sorrow
Take away my pain
Uma coletânea que se preze tem que ter a eterna material girl Madonna. Em Rain, ela prova que até as divas têm dor-de-cotovelo. Ideal, então, para aqueles momentos de saudade de alguém. Linda como a balada é o clipe, um dos mais bonitos da cantora. Vale a pena ver e rever e rever e rever...até a saudade passar (ou piorar).

Chove Chuva – Jorge Benjor
Chove chuva, chove sem parar, chove chuva, chove sem parar
Pois eu vou fazer uma prece, pra Deus nosso senhor
Para chuva parar de molhar o meu divino amor
Que é muito lindo, é mais que o infinito, é puro e belo inocente
Como a flor
Por favor chuva ruim, não molhe mais o meu amor assim
Da época em que ele ainda era apenas Jorge Ben (Maldita numerologia!) e fazia músicas de fazer qualquer um levantar do sofá e começar a chacoalhar o esqueleto. A sempre simpatia fala com inocência e romantismo sobre a chuva que molha o ser amado. Não é lindo? Para dar replay, replay, replay...

It´s Raining Men – The Weather Girls
It's Raining Men!
Hallelujah!
It's Raining Men!
Every Specimen!
Tall, blonde, dark and lean
Rough and tough and strong and mean
Quem não se lembra do clipe das rechonchudas ´garotas do tempo´, onde, toscamente, homens despencavam do céu? Virou hino gay, mas diverte todas as orientações sexuais. O brazuca Edson Cordeiro e a ex-spice girl Geri Halliwell bem que tentaram em duas versões mais ´mudernas´, mas não conseguiram, nem de longe, chegar aos pés da original.

Only Happy When It Rains – Garbage
I'm only happy when it rains
I'm only happy when it's complicated
And though I know you can't appreciate it
I'm only happy when it rains
You know I love it when the news is bad
And why it feels so good to feel so sad
I'm only happy when it rains
Seria uma das prediletas de meu Rainy Hits. Quando Shirley Manson, a bela vocalista do Garbage, grita, eu a acompanho aos berros dentro do carro, com os vidros devidamente fechados. A música é agressiva, melancólica, arrebatadora, enfim, perfeita para uma sessão de ´descarrego´ em seu automóvel. Não se importe se alguns colequinhas, no semáforo, acreditarem piamente que é louca. Faz parte do ritual.

Cryin´In The Rain – A-Ha
I’ll never let you see
The way my broken heart is hurting in me
I’ve got my pride and I know how to hide
All my sorrow and pain
I’ll do my crying in the rain
A original, gravada pelos The Everly Brothers na década de 60, virou trilha sonora de comercial de chocolate nos anos 90, mas nem por isso me fez deixar de preferir a versão dos noruegueses do A-Ha. Tudo por causa da voz etérea de Morten Harket (Mesmo tendo eu, no auge do sucesso do grupo, tendo preferido o tecladista Magne Furuholmen).

It´s Raining Again - Supertramp
It's raining again
Oh no, my love's at an end
Oh no, it's raining again and you know it's hard to pretend
Oh no, it's raining again
Too bad I'm losing a friend
Oh no, it's raining again
Bonitinha, mas entraria já no final do CD. Tudo apenas porque ela me faz lembrar do clipe bonitinho, onde o casal se beijava na chuva. E, no sofá, um bando de meninas ainda na pré-adolescência, suspirava imaginando como seria tocar os lábios de um menino debaixo do maior toró. Ai, ai.

November Rain – Guns And Roses
So if you want to love me
Then darlin' don't refrain
Or I'll just end up walkin'
In the cold November rain
Do you need some time...on your own
Do you need some time...all alone
Bom…Nessa época Axl Rose não era aquele senhor balofo que vimos pela TV no Rock in Rio 3, mas um lindo galã de cabelos longos e louros, que encantava as adolescentes da época com sua atitude rock n´ roll. Os anos passaram para ele, mas não para a música, que só tem um defeito: é muuuuuuuuito longa.

Have You Ever Seen The Rain - Creedence
I want to know:
Have you ever seen the rain?
I want to know:
Have you ever seen the rain
Comin' down on a sunny day?
Have you ever seen the rain?
Have you ever seen the rain?
Have you ever seen the rain?
Have you ever seen the rain?
A canção folk foi gravada e regravada por um monte de gente, incluindo os Ramones, Dr. Sin e até a breguíssima Bonnie Tyler, entre outros. Nesse caso, ao contrário de Cryin´In The Rain, fico com a original. Faz todo mundo pensar se alguma vez na vida prestou atenção na chuva e toda sua beleza ali, pronta para ser apreciada.

Kaya - Bob Marley
I feel so high I even touch the sky
Above the falling rain
I feel so good in my neighborhood
So here I come again
I got to have kaya now, got to have kaya now
I got to have kaya now, for the rain is falling
Não gosto de reggae, mas abro uma honrosa exceção para Bob Marley. Como sempre suas músicas falam de paz, harmonia, enfim, dos princípios que norteiam o rasta. Pra ouvir não só com os ouvidos, mas com o coração. E, quem sabe, ficar mais perto de Jah.

********
Texto originalmente publicado no aposentado Rosapunk, alguns anos atrás. Republico porque chuva é o que não falta por aqui.
Ah, hoje eu acrescentaria Singin' in the rain, com Gene Kelly ou com Jamie Cullum. Pela falta posto a foto do primeiro...

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Butterflies e todo o resto


Qualquer coincidência é mera semelhança...
(T.a.m.q.t.)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

One, two, three, four!

O tempo sempre passa rápido demais. Ou sou eu quem insiste em correr enquanto paradinho ele está? Ah, quero muito. Muito. Tudo ao mesmo tempo agora (já diziam os Titãs quando eles eram mais combativos... O que a idade não faz? Faz bem, ora! Deixa eles tranquilos como estão). Metereologia promete entre 13 a 30 graus, mas o dia nublado não me anima. Mezzo cinza, mezzo bege, sem nuance alguma. Já escrevi dois livros. Falta plantar uma árvore e ter um filho. Tô aprendendo a jogar capoeira (na Europa, poizé). Tenho saudade imensa dos dois melhores pais do mundo. Dos dois melhores irmãos do mundo. Dos dois melhores amigos do mundo. Dos dois melhores cachorros do mundo (Sol, você não sabe, mas você vai ter que me dividir com o Chefe, que já deve existir na barriga da mãe dele). Adoro unhas vermelhas. Som alto. Você segurando minha mão enquanto dorme. Ah, você. Você eu amo.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Ontem mesmo a gente compunha aquela música, lembra? Na garagem de chão vermelho daquela casa de conjunto, onde se foi tão feliz. Ela ia fazer muito sucesso (para que mais que duas frases, né? Toma. Me dá) e a gente ia ficar milionário. A gente também ia fundar um banco e construir um avião. De ontem para hoje ganhamos alguns centímetros (eu poucos, você muitos) e (ainda) não somos endinheirados. De ontem para hoje apareceu muita água nos separando. Por pouco, né? Logo você estará aqui, logo eu estarei aí. Logo, logo. Quisera eu poder adiantar o relógio e te ter do meu lado, pra te ouvir reclamar do meu excesso de carinho. Coisa de irmã, mais velha. Coisa de sangue, DNA. Código genético esse nosso que faz lágrima rolar pelo rosto à toa à toa. Ainda bem que ele mesmo permite que a gente nem se importe. Deixa que a gente chore no portão de casa (aquela casa onde a gente já não vive, mas será sempre a nossa casa) se despedindo mais uma vez. Permite que a gente brigue e faça as pazes imediatamente. Libera todo e qualquer tipo de piada, confidência. Faz sentir saudade, sempre e muita. Mas faz também ter a certeza de que será assim pra sempre. E nada me faz tão feliz, Alexandre.

p.s.: Quero a foto da gente, ainda pequenininhos, escaneada, tá?

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Tenho saudade de você quando tomo sol e sonho em ter a pele da cor da sua. Tenho saudade de você quando o computador 'emperra' e você não está por perto pra me salvar do Windows. Tenho saudade de você quando vou fazer compras e não tem você no provador em frente pra palpitar. Tenho saudade de você às 15 horas do domingo à tarde, quando o shopping abria e a gente ia correndo comprar algo apenas para... comprar algo. Tenho saudade de você ao chegar de madrugada e não ter você pra acordar contando da noite quase finda. Tenho saudade de você quando toca Stayin' alive e lembro que a gente assistia Os embalos de sábado à noite comendo uma meleca feita de côco ralado e leite. Tenho saudade de você quando estou desesperada sobre alguma coisa e tudo que mais queria era te ouvir dizer: - Você que sabe, Andrea. Tenho saudade de você assisto Friends e não tem você ao lado pra filosofar se o Ross é um idiota ou um fofo. Tenho saudade de você quando ouço alguém tocando piano e sei que minha irmã também. Tenho saudade de você quando tomo capuccino de manhã e não tem você pra me dizer que eu devia comer direito. Tenho saudade de você, Amanda.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Vizinhos

O ruído da torneira aberta entrega que tenho vizinho novo do lado esquerdo. Já era tempo. Há muito cansei de fingir que o casal do lado direito não existe. Ignoram as tentativas de cumprimentá-los, para puxar qualquer conversa nonsense que seja (Ei, esse tempo, hein? Quanta chuva). São solenemente ignorados meus simpáticos olhares de soslaio e charmosos (Talvez nem tanto, concluo agora) semi-sorrisos. De nada adianta. Mas quando as cortinas amarelas de estampa de gosto duvidoso se abrem, eles existem. E como. Despudoradamente, com a sem-vergonheza digna de um casal de película erótica. Ela, loira oxigenada, lá pelos seus 40 anos, geme com a expertise de uma atriz pornô. Dele, na mesma faixa etária, sempre com cara de nada amigos, a única coisa que se pode ouvir foi um Was ist?, quando uma convidada (Minha, claro) se atreveu a espiar pela janela, devidamente escancarada durante uma das exibições (Educativas, assumo) Talvez por isso o estudante que do quarto ao lado esquerdo tenha sumido em tão pouco tempo. Bobagem. Lembro perfeitamente da noite em que ele chegou. Reclamou que o estúdio (estúdio = kit composto quarto minúsculo contendo cozinha menor ainda e banheiro) era muito quente. Talvez a temperatura estivesse mesmo fora de ordem no quarto do rapaz e ele tenha morrido desidratado numa noite dessas. Eu expliquei que deixo a janela aberta, 99% das vezes. Depois do contato cortês ele desaparecera. Talvez tenha mesmo morrido e sido retirado pela Polizei e eu deixei passar despercebido. Apenas a bicicleta e uma pequena moto continuam na porta do quarto, levando por água abaixo a tese de que s duas pertenciam ao casal de italianos que antes lá moravam. Ah, esses sim. Esses se faziam presentes. Disputavam a minha atenção com o casal do lado direito. Já na casa dos 60, eles marcavam território com o som da televisão sempre ligada e os diálogos em tons quase sempre calorosos. A parte masculina, quando a feminina saia para trabalhar, passava quase que o tempo todo no pátio lustrando sua Mercedes. Oh ieah, viviam num casulo semelhante ao meu mas tinham um carro de luxo para carregá-los para lá e para cá. Mas agora voltemos ao que interessa: quero saber quem acabou de chegar. Os ruídos cessam. O vizinho deve ter ido dormir. E eu deveria fazer o mesmo. Há dias sou surpreendida por uma insônia insistente. De onde vem essa energia extra que não pedi? Até o energy drink aposentei, diante de tantas afirmativas sobre os malefícios da taurina e outros termos químicos com sufixo -ina.Whatever. Vamos ver no que dá.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Aqui

- Ei, fiz um blog!
- Ah, é? Então aproveita que vai morar longe e faz tipo um diário pra gente ficar sabendo das coisas...
- ...

Pois é. Mais de um ano se passou. As reticências na resposta anunciavam, àquela época, que não existiria diário coisa alguma, mas apenas um emanharado de ficção e confissões disfarçadas... Tá bom. Vou atender seu pedido, Luci.

  • Há três dias chove direto. Trégua hoje, que continua nublado e com vento sabor chuva. Acontece que a chuva daqui é insuportavelmente gelada. Me dói os ossos, juro.

  • Acabei de chegar de uma tentativa de corrida. Sim, das 16 às 17 horas (Sentirei saudade desse sabático, ow ieah). Machuquei o pé e as corridas ficaram para trás tem dois meses. Mas hoje me saí bem. Nem dor tive. O pé machucado é o esquerdo.

  • Um morador do prédio onde moro comprou uma motoquinha, dessas tipo Mobillete (se escreve assim). OK. Mas nos três últimos dias ele ligou o motor do treco exatamente às 4h20 da manhã, em frente a minha janela. Ontem, chegando em casa no final do dia, o encontro tentando consertar o motor da motoca... Pensamento positivo funciona! Hoje pude acordar civilizadamente, às 7.

  • A primavera começa a anunciar toda sua beleza. A temperatura amena permite que as flores comecem a surgir, quase em profusão. É lindo, muito lindo. Primavera + verão aqui são absurdamente belos. Podia ser assim, aí.

Por hoje é só, Luci.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Sobre a passagem e outros ritos (e as suas consequências)

Obrigada João (zinho, apenas no nome, mas enorme em coração-alma), por deixar parafrasear-te agora. Você disse que sabe como dói. Eu sei. Ele sabe. Nós e eles também. E que a saudade aumenta. Mas penso, nesse exato momento, em quem não mudou de status. Em quem aqui ficou. São sobre esses que reflito. E sofro. E tenho saudades, mesmo ostentando o mesmo status que eles. Vou tentar transformar em afago, como você disse....

sábado, 16 de fevereiro de 2008

4 de setembro de 2006. Cinco horas da tarde aqui. Meio dia lá no Brasil.
O avião aterrissa em Zurique.
É o Zé Angico na Suíça.
Trêmulo, ele apresenta o passaporte, que é carimbado pela polícia.
Se ele soubesse o que tô carregando...

Mesma data, mesmo horário, casa de João Cruvela.
Cadê o cara que não aparece. Puta que pariu!
Acende outro cigarro, com a ponta do que está acabando. Olha para o relógio (Swatch). Passa a mão no cabelo, depois no rosto. Nunca esteve tão ansioso.
Finalmente. Ele deve estar no aeroporto. Cadê o celular?

Procura por um telefone público. Não pode errar.
Porra de número que não acaba mais.
Tu-tu-tu.
E se o cara não atender? Tô fudido.

Alô.
Mesmo depois de combinar com Zé Angico ele continua tenso. Esfrega as mãos. Vai ao banheiro. Faz xixi. Lava as mãos. Molha o rosto. Olha no espelho. Enxuga o rosto. Olha de novo no relógio. Acende outro cigarro. Vai pra varanda da casa fumar. Tem uma garrafa de vinho aberta no chão. Ele abaixa e pega a garrafa. Bebe diretamente do bico. Suspira e olha pra fora. Traga.

Eles se encontrarão em meia hora, na casa do cara.
Compra o bilhete, pega o trem.
Fróindenberg o quê? Ixtrasse? Porra de nome comprido, que nem os números. Caralho!
Desce do trem na HB. Olha para o relógio do Treffpunkt. Faltam 13 minutos para encontrar o cara. Melhor se apressar. Correr. Não há tempo nem pra um cafezinho. Pára, vê o que tram está chegando e corre.
Melhor assim. Ô lugarzinho caro da porra.

O vinho acaba. Faz um pouco de frio e José Cruvelo esfrega as mãos nos ombros pra se esquentar. Resolve entrar. Liga o rádio na cozinha e senta na cadeira junto à mesa. Olha de novo pro relógio. Zé Angico deve estar pra chegar. Ele esboça um sorriso ao lembrar da encomenda que está chegando.
Falta pouco. Vou aguentar.

Corre e pega o tram. Número 10. Limpa o suor da testa.
Observa as fontes d' água os carros, as meninas adolescentes sorrindo...
Se essa galera soubesse o que eu carrego nessa mala. Tem hora que nem eu acredito. Mas esse trampo vai me tirar o pé da lama. Três anos sem emprego e aparece essa chance. Tô com o meu na reta, mas fazer o que? Vou conseguir sair do barraco e quem sabe ir pra uma casinha bacana, Três quartos, quintal pra reunir os amigos pro churrasquinho de domingo, Nunca mais vou atrasar o aluguel, se Deus quiser. Quem sabe dá até pra trocar a moto por um carrinho? É isso aí. Cada um se vira como pode e eu tô me virando.
Ele desce do tram. Com um papelzinho amassado nas mãos, procura o endereço do ' patrão'.
Os prédios são todos iguais. Me fudi. &%*”+&///)ç%*””. Porra de língua.

João Cruvela levanta. Vai até o quarto e pega a carteira. Separa o dinheiro que entregará a Zé Angico pelo serviço. Beija a santa que está no criado, pedindo a ela que dê tudo certo e o cara chegue logo.

Zé Angico enfim, encontra o endereço. Confere o nome na plaquinha: João Cruvela. Toca a campainha. A porta se abre e ele sobe as escadas correndo. A porta do apartamento está entreaberta. A luz do hall, acionada pela sua presença, ilumina o interior do casa, na penumbra. O ' patrão' o recebe. Nervoso, sua em bicas. Limpa de novo o suor da testa.
Cara, achei que tava na maior enrascada. Não entendi uma letra do que ouvi na rua. Cidade de doido. Povo estranho. Taqui a encomenda.
Ele estende o pacote. Instantaneamente João Cruvela toma a encomenda da mão do avião. Seus olhos brilham. Fissura de 12 dias sem o bagulho. Imediamente ele corre pra cozinha. Zé Angico não entende nada. Tremendo, ele acende o fogo do fogão. Põe uma frigideira pra esquentar e adiciona gordura. O óleo esquenta, quase sai fumaça. Ele abre a geladeira. Pega dois ovos e quebra as cascas, joga na frigideira. Ele inspira o cheiro que sai da frigideira, quase num êxtase.
Zé Angico continua sem compreender.
Ovo + farinha? Que diabos de cara louco da porra.
Como um psicopata prestes a exterminar sua vítima, João Cruvela rasga o saco com a farinha. Parte do conteúdo branco voa, como uma nuvem de fumaça fina. Uma névoa toma conta da cozinha. Zé Angico entra em pânico.
O que o cara vai fazer?
Se algo acontece a culpa pode ser dele.
Mais que depressa, ele joga boa parte do saco dentro da frigideira. Gordura, ovo e o pó branco viram... farofa!
Com um prazer quase sexual João Cruvela mete a mão na panela e com as mãos queimando com o calor, experimenta um bocado da iguaria.
Zé Angico sai correndo. Aquilo era ilegal, ele tinha certeza. Não se podia comer farinha na Suíça. Aquele era um país realmente estranho. Ele precisava dar o fora dali o mais rápido possível.
Quando ele faz menção de sair João Cruvela o segura pela mão.
Te explico tudo. Me dá cinco minutos. Te garanto que não vai arrepender.
Zé Angico senta e João Cruvelo conta sua história. Ele tinha chegado aqui há cinco anos:
A farinha é o principal e primordial ingrediente da... farofa! Farofa que vai muito bem com feijão, ovo ou um bom churrasco. Hummmm. Desde criança fui fissurado por farinha. Tanto que quando saí do Brasil minha principal preocupação era ficar sem ela. Solução: trouxe 10 quilos. Isso mesmo, 10 quilos da danada. O que eu não esperava era que a gringaiada ficasse fissurada na farinha tanto quanto eu. E o que era comida pro estômago acabou alimentando o bolso. Daí foi um pulo pra eu virar o rei da farinha de Zurique.
Bem, foi bom enquanto durou. Os hômi começaram a fazer marcação cerrada. Tive que sair do país, dar um tempo fora. Mas não adiantou. Voltei e eles continuaram em cima. O produto é proibido aqui, você sabe. Fui chamado para uma audiência e não fui. Sou foragido. Não posso continuar no negócio. Você é minha única esperança. Com o tempo, infelizmente, acabei ficando viciado na farinha. Te passo todos os clientes, os contatos, tudo, tudo, tudo. E você, em troca, tem apenas que me vender o que consumo por mês.
Corta e mostra ele triste, absolutamente viciado, mas querendo passar o ' cargo' para Zé Angico.
Zé Angico sai sem dizer uma palavra. Anda pela cidade. Mostraremos coisas que identificam bem Zurique. Ele volta. Abre a porta:
Tô dentro.
Cena muda mas com som ascendente mostrando Joâo Cruvelo explicando tudo a Zé Angico. Repetições de cenas dele chegando ao aeroporto, cada vez mais bem vestido e feliz. Distribuição da farinha aos gringos.
Um dia ele acorda e tem a idéia que supõe brilhante.
Vou plantar mandioca e eu mesmo produzirei a farinha. Já pensou esses alpes cheinhos de madioca? Ninguém nunca plantou nada aqui. Se mandioca dá, e muito, no Ceará, porque não vai dar aqui. Hahahaha.
Ele faz alguns telefonemas. Dias depois as mudas chegam do Brasil. Ele vai buscar e imediata
mente faz para um cume de uma montanha e as planta. Vai pra casa feliz. Faz planos ambiciosos: Moto? Não, carro! Lancha? Não, iate! Ultra-leve? Não, avião. Apartamento? Não, mansão na beira do lago.
Ele sonha, sonha e sonha até adormecer. No dia seguinte vai conferir como andam as mudinhas.... Ao chegar ao local, há placas de homens trabalhando e as plantas desapareceram. Desesperado, ele coloca as mãos na cabeça. Procura por todos os cantos. Não as encontra. Fica de joelhos e roga aos céus que lhe ajudem. Nada.

*******

Conta a lenda de uma nação do tronco tupi-guarani, que a filha de um chefe guerreiro apareceu grávida sem nunca ter tido contato algum com um homem. Dessa moça virgem nasceu uma criança, para surpresa da tribo, muito branca e muito precoce, o que atraia muita gente à taba. Chamaram-na Mani. Passado um ano ela morreu, foi enterrada em sua própria casa e, segundo a tradição, sua sepultura regada diariamente. Passado um tempo nasceu uma planta, cresceu e floresceu até que a terra fendeu mostrando o fruto que acreditaram fosse a própria Mani. Comeram-no e o chamaram de mani-oca, a casa da Mani, que logo se transformou no pão e no vinho de nossas populações nativas.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Life, sweet life

- Tem vontade de voltar logo?
- Tenho e não tenho.
- Explica melhor.
- Já estou saudosista... das coisas que terei vivido aqui. Mas tenho saudades das coisas daí, das que não tenho aqui. Enfim, já tenho saudade da vida daqui, mas tenho também da minha vida aí. Uma vida de verdade...
- Vida doriana?
- Mais ou menos...
- Saudade do que, por exemplo?
- Casa, carro e cachorro. (Aqui é estudiozinho, tram e cachorro só na rua).
- Ter neném, que delícia. Essa é minha vida, doriana, e adoro. Mas, confesso que, tem hora que acho medíocre.
- Medíocre por que? Medíocre é quem não sabe ser feliz.

** Baseado em fatos reais e em homenagem pra uma amiga muito querida.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Cida acordara às seis em ponto. A rotina era a mesma a 20 anos, desde que se casara com Pedro.

Pedro fora seu primeiro e único homem. Dos rapazes da rua ele era o único trabalhador e ajuizado, rezavam em coro todas as mães de moçoilas em idade casadoura. Cida enrabichou-se com ele aos 12. Para não ficar falada, aos 15 Pedro meteu-lhe um anel de noivado no anular direito. Aos 17, com a autorização dos pais, pois ainda menor de idade, entrava na igreja para se casar com ele. Vestida de branco, embora não fosse mais virgem a pelo menos três anos. E daí? Pedro jurou que nunca contaria o que aconteceu naquela noite sob as escadarias da torre da igreja. Era um segredo dos dois. E assim seria até que um enterrasse o outro.

Ela passava o café. Na segunda prateleira da porta esquerda do armário amarelo da cozinha sempre havia um quitanda pronta para a ocasião: pão, broa, bolo. Não importava. Pois Pedro nunca comia. Sequer tocava na comida. Bebia o café: puro, amargo, sem açúcar e ir pra firma. De onde retornaria apenas às seis e trinta. Pegava o ônibus das seis e quinze. Em treze minutos descia no ponto na esquina de casa. Dois minutos era o que levava até tocar a campainha. Cida largava o feijão no fogão e vinha correndo abrir o portão.
- Quando é que você vai mandar trocar esse portão, Pedro? Não aguento mais arrastar essa porcaria, reclamava. Esse portão ainda acaba comigo.
- Mês que vem, se sobrar dinheiro, prometia ele. E assim se passavam os meses, anos. O portão era o mesmo desde que eles se casaram. Assim como era a casa e tudo que nela havia.

No dia seguinte, a mesma rotina, encerrada com a mesma revolta por causa do portão.

Na quarta-feira de Cinzas Cida decidira que seria diferente. Mas fez tudo igual, para não levantar qualquer suspeita. Acordou, fez o café, pôs a mesa. Mal Pedro saiu começou seu plano. Pintou as unhas de vermelho sangue, como Quitéria, a dona do açougue. Abriu o guarda-roupa e escolheu o vestido mais bonito. Fechou o zíper olhando no espelho da penteadeira, satisfeita com o que via. Ela mesma o fizera, para o casamento da cunhada, irmã mais nova de Pedro. Foi a mais bela da festa. Até o noivo, Raimundo, não tirou os olhos dela no próprio casório. Sem falso pudor ela sambou a noite inteira. Era a chance de relembrar os tempos de moça, quando matava as irmãs da igreja de inveja nos bailinhos da paróquia. Calçou a sandália dourada de salto alto herdada da irmã. Para combinar com o esmalte, passou o resto do batom vermelho que estava esquecido no fundo da bolsa.

Saiu de casa. Antes, arrastou o tal portão:
- Essa porcaria ainda me derruba um dia, brada.

Atravessa a rua. Do outro lado, o açougue.
- Oi seu João, um quilo de alcatra, por favor, pede.
- Mas a senhora está assim, diferente, diz o açougueiro, sem tirar os olhos da mulher que ele desejava a exatos vinte anos.
- De vez em quando a gente precisa se arrumar, pra lembrar que tá viva.

Ele entrega a carne e a puxa pelo braço. Ela nada diz. João a leva para o frigorífico atrás do açougue. Àquela hora ninguém apareceria por lá. Os dois entram na imensa geladeira. O cheiro de carne crua e sangue não enoja Cida. Desperta todos os hormônios adormecidos em suas veias. Ela se entrega ao açougueiro. Sem dizer nenhuma palavra, ela ajeita o vestido, pega a bolsa e sai. Deixa o pacote de carne em cima do balcão. Atravessa a rua, escancarando os dentes para o vira-lata que a encara, única testemunha de sua infidelidade. Olha para o portão. "Vida miserável", pensa. Empurra o ferro com os dois braços. As dobradiças cedem e o portão cai em cima de Cida. Ela cai. Fita o céu. Sorri. E morre esmagada pelo portão.









quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Errata (para o post anterior)

Meu melhor amigo é ruivo, logo, vermelho também.

p.s.: Desculpa, viu?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Carmim


Vermelho é a cor da casca da maçã. Jessica Rabbit usa um vestido vermelho para seduzir Roger Rabbit. Apenas mulheres com mais de 30 anos podem usar batom vermelho sem ficar ridículas. Rosas vermelhas são as enviadas por homens apaixonados às suas musas. Pessoas tímidas ficam com as bochechas vermelhas quando alguma situação lhes causa constrangimento. Vermelho é a cor do pecado. O traje de Papai Noel é vermelho. Idem para o de Chapeuzinho, claro. Quando o semafóro fica vermelho, os caros param, ou pelo menos devem parar. Ainda não inventaram um ibook vermelho (mas deviam). As botas de cowboy do par romântico de Kevin Bacon em Footlose eram vermelho-sangue. Touros são atraídos pela cor vermelha. Sou louca por almofadas em forma de coração, vermelhas. O Bloody Mary é vermelho. Assim como catchup. Se você cortar o dedo, o sangue que sairá será vermelho. A menstruação é vermelha. Já usei um vestido vermelho de cetim. Depois dos 40, muitas mulheres optam pela coloração vermelha para o cabelo. Red Bull te dá asas e tem logo vermelha. A Ferrari mais famosa é a vermelha. O círculo da bandeira do Japão é vermelho. As erupções da catapora são vermelhas. Perto do Valentine's Day, a decoração das lojas é basicamente vermelha. Advogados usam anéis com pedras vermelhas. Frutas vermelhas ficam irresistíveis com sorvete de baunilha. Para decorar paredes de cabarets, nada melhor que veludo vermelho. O rubi é vermelho. Fashionistas estão usando bolsas vermelhas. Morangos são vermelhos por dentro e por fora. Tirando a cruz, o resto da bandeira da Suíça é vermelha. A Cruz Vermelha da Cruz Vermelha (naturalmente) é vermelha. Meu próximo iPod será vermelho. Ruivos têm cabelos vermelhos. Gente com pouca melanina fica vermelha se exposta ao sol. Os olhos dos coelhos são vermelhos. O ouro vermelho é um tipo raro. A capa da minha agenda é vermelha. Assim como o casaco de veludo cotelê que herdei de minha mãe.O carro dos bombeiros é vermelho. Branca de Neve usava uma fita vermelha no cabelo. Terra vermelha suja o seu carro. Bebês muito fofos devem usar uma fitinha vermelha para evitar mal-olhado. Paredes vermelhas aquecem o ambiente. Unhas vermelhas são as minhas prediletas. Celebridades pisam em tapetes vermelhos. HRaiva faz gente ficar vermelha. Vermelho foi a cor do meu primeiro carro. A outra cor do White Stripes é vermelho. Estão querendo acabar com a Zona vermelha em Amsterdam. Luzes vermelhas cintilam nas sirenes da ambulâncias e viaturas. Se você puxar meu braço com força vai ficar vermelho.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Sempre me arrependo depois. Mas com você é diferente das outras pessoas. Me desculpe: as palavras são expelidas garganta afora, ricocheteando as suas. Tornam-se escudo e espada. Não tem mansidão. Não tem humor... Não tem amor. Cansei. Me desculpa. não quero jogar squash. Queria por um ponto final nisso tudo. Mas tem sangue seu correndo aqui nessas veias que vejo por baixo dessa pele descolorida pelo inverno. Me desculpa. Mas é assim que é e foi. E talvez continue a ser, sempre. Me desculpe.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

a Polegarzinha

"_ O inverno muito frio está chegando _ disse a andorinha _, vou voar para longe, rumo aos países quentes. Você quer vir comigo? Nós voaremos para bem distante dessa toupeira perversa e de sua casa sombria, por cima das montanhas, até os países quentes, onde o sol brilha mais forte e mais belo do que aqui, onde é sempre verão com lindas flores nos campos."
(Hans Christian Andersen)

Vamos?