terça-feira, 27 de novembro de 2007

(boa) perspectiva


No filme errado

Boa comida. Bebida idem. Diversão. Conforto. Afeto.
Mas as malas desarrumadas no canto a fazem lembrar que àquele lugar ela não mais pertence.

Verbo-rrágica

Fala. Anda, dirige, pedala, transpira, bebe, come. Fala. Pensa, reflete, chora, escreve, sorri. Fala. Beija, abraça, encosta, dorme, sonha. Fala. Vê, lê, ouve, escuta (porque escutar é diferente de ouvir, claro), filosofa (filosofia de buteco ou acadêmica, porque as duas são indispensáveis).

terça-feira, 20 de novembro de 2007

A grande verdade sobre o amor...

Soneto do Amor Eterno

De tudo, ao meu amor serei atento

Antes e com tal zelo, e sempre e tanto que mesmo em face do maior encanto dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento e em seu louvor hei de espalhar meu canto e rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou ao seu contentamento.
E assim quando mais tarde me procure quem sabe a morte, angústia de quem vive quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

p.s.: E ele entendia muito bem do assunto, o Vinícius...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Um dia ela acordou e a ficha caiu:
- Mesmo caoticamente imperfeito o mundo ainda era imaculadamente belo.

domingo, 18 de novembro de 2007

Lights on!

rise


and shine, ainda que no outono!

era vidro e se quebrou

O vaso de cristal caiu. E, de um lindo e raro objeto, transformou-se em um monte de cacos disformes, pontiagudos e até perigosos, espalhados pelo chão da sala. Exatamente como qualquer vidro ou louça comprado no supermercado da esquina. “Mas ele era tão bonito”, lamentou quase aos prantos depois de esbarrar no objeto e fazê-lo cair. Agora não mais. É comum. Normal. Ordinário. Como qualquer outro vidro produzido em série. Ela ficou triste. Juntou os pedacinhos e colocou no lixo. Melancólica, lembrou de como um dia gostou aquele vaso. Aquele vaso que, tão querido, ocupava o lugar de maior destaque na estante da sua sala. Lugar esse agora que, por não encontrar um vaso tão bonito quanto aquele, ostenta o vazio.


Cresceu acostumada a ouvir da mãe: “Menina, desce daí. Se cair, machuca”. Como toda e qualquer (boa e normal) criança fazia exatamente o contrário. “Vou subir, sim, e cair. Se cair, machuca. E daí?”. Adulta, continuou subindo. E caindo. Mas descobriu a existência do band-aid. E dele fez seu aliado. “Se machucar cola um band-aid. Cicatriza. Às vezes rápido, às vezes não. Mas cicatriza. Ou, ao menos, ajuda no processo de fechar (fechar, porque uma ferida nunca cura. Vira cicatriz e te faz lembrar a não cair no mesmo lugar, ou daquela maneira. Embora possa-sa esquecer às vezes e cair repetidamente no mesmo local e exatamente do mesmo jeito). Ela continua caindo. Tem um prazer quase orgásmico na queda. Os que a cercam sempre dizem: “Cuidado, vai machucar!”. Ela faz-se de surda. Cai. Adora o milésimo de segundo em que o chão some dos pés. A certeza de não saber o que acontecerá em seguida. E mais ainda: saber que para onde seja que for parar, ela pode sair de lá. E ir pra onde bem entender.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

T.oda p.roblemática m.omentaneamente

Uma vez por mês ela não gosta de ser mulher. Não gosta do aspecto inchado, entumescido que arredonda seu ventre. Da pele que brilha. Das erupções que nenhum artifício consegue esconder. Do estômago que recusa-se a aceitar toda e qualquer coisa que entra pela boca. Da vontade de comer doce e pão. Do humor instável. Do astral bipolar. Da vontade de correr. Da vontade de nada fazer. De colocar tudo pra fora. De não deixar nada escapar para fora (da alma). Da insônia. Da dor nas pernas. Do choro que vem e vai sem avisar. Do corpo que na pele não mais cabe.