domingo, 18 de novembro de 2007

Cresceu acostumada a ouvir da mãe: “Menina, desce daí. Se cair, machuca”. Como toda e qualquer (boa e normal) criança fazia exatamente o contrário. “Vou subir, sim, e cair. Se cair, machuca. E daí?”. Adulta, continuou subindo. E caindo. Mas descobriu a existência do band-aid. E dele fez seu aliado. “Se machucar cola um band-aid. Cicatriza. Às vezes rápido, às vezes não. Mas cicatriza. Ou, ao menos, ajuda no processo de fechar (fechar, porque uma ferida nunca cura. Vira cicatriz e te faz lembrar a não cair no mesmo lugar, ou daquela maneira. Embora possa-sa esquecer às vezes e cair repetidamente no mesmo local e exatamente do mesmo jeito). Ela continua caindo. Tem um prazer quase orgásmico na queda. Os que a cercam sempre dizem: “Cuidado, vai machucar!”. Ela faz-se de surda. Cai. Adora o milésimo de segundo em que o chão some dos pés. A certeza de não saber o que acontecerá em seguida. E mais ainda: saber que para onde seja que for parar, ela pode sair de lá. E ir pra onde bem entender.

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